Publicado em: 04/11/23 às 15h
Eliel Paiva - Campinas SP
Psicanalista
Publicado em: 04/11/23 às 15h
O termo "narcisista" foi absorvido na linguagem cotidiana, muitas vezes carregado de conotações negativas.
A percepção comum sugere que os narcisistas são pessoas egoístas e buscam ativamente prejudicar os outros. Daí surgem derivações como mães narcisistas, parceir@s narcisistas, chefes e por aí vai.
Nesse contexto, surgem também propostas que visam entender a estratégia dos narcisistas, partindo do pressuposto equivocado de que todos os narcisistas se comportam da mesma maneira. Essa forma de pensar o narcisismo reduz a complexidade e riqueza desse conceito fundamental da psicanálise.
Eliel Paiva - Campinas SP
Psicanalista
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Desde o narcisismo primário, onde a criança concentra sua libido em si mesma, até o narcisismo secundário, que envolve a projeção do desejo nos objetos externos, Freud nos mostra que o eu não emerge instantaneamente; ao contrário, há um processo intermediário, o narcisismo, servindo como uma ponte entre as pulsões auto-eróticas e o desenvolvimento do amor por objetos externos. Nesse contexto, o termo narcisismo assume uma importância crucial.
Sessão de Terapia Online
com Eliel Paiva
Freud concebe o termo a partir do mito grego de Narciso, inspirado nas reflexões do criminologista Paul Näcke (1851-1913). Para Freud, o narcisismo é, além de um estágio importante na formação do sujeito, um dispositivo de subjetivação essencial na formação do eu.
É um desafio lidar com o elemento narcísico básico das pessoas que convivemos, muito mais desafiador é conviver com pessoas narcisistas ( ou seja, que sofrem do Transtorno de Personalidade Narcisista).
Vale ressaltar que o narcisista não busca fazer vítimas; ele está imerso em suas próprias demandas narcísicas e projeta suas necessidades nos outros. É crucial compreender que o narcisista não é vilão, mas alguém que enfrenta um transtorno.
Imaginem um gato enroscado numa cerca, incapaz de se soltar. Ele precisa de ajuda, no entanto, qualquer tentativa de assistência é recebida com ameaças de mordidas e arranhões. Conviver com um narcisista pode se assemelhar a essa situação delicada. Quem está por perto precisa se cuidar para não se machucar. Em alguns casos, pode ser necessário e fundamental se afastar.
A grande diferença entre o gato e o narcisista é que o próprio narcisista deve buscar ajuda. Podemos sugerir, oferecer apoio, mas em última instância, é ele quem precisa dar o passo para aceitar auxílio. Assim como chamar bombeiros treinados para lidar com a fúria do gato e libertá-lo da cerca, a ajuda profissional é fundamental para o narcisista encontrar um caminho de autoconhecimento e superação.
É incomum que um narcisista busque terapia para abordar seu comportamento narcisista, dado o desafio de reconhecer tal característica. Muitos têm dificuldade em se identificar como narcisistas, pois isso exigiria um nível de humildade, autocrítica e vulnerabilidade que lhes é difícil alcançar.A boa notícia reside no fato de que alguns narcisistas eventualmente procuram terapia por outras questões que causam sofrimento. Esse pode ser um ponto de partida para abordar o Transtorno de Personalidade Narcísica e iniciar um processo terapêutico construtivo.
A abordagem psicanalítica sugere que o narcisismo é inerente à condição humana, uma estrutura básica na constituição da identidade. Reconhecer isso não implica que todos sofremos de um Transtorno de Personalidade Narcisista.
É saudável ter uma "dose" de narcisismo, pois está ligado à formação do eu e ao desenvolvimento da autoestima. A concepção popular de narcisismo muitas vezes associa o transtorno narcisista a pessoas perigosas e mal-intencionadas. No entanto, é crucial desmistificar essa ideia.
Na fase de desenvolvimento do Eu, podemos pontuar três momentos cruciais, sendo o primeiro momento, aquele que o sujeito se depara com sua imagem, como em um espelho, mas ainda não reconhece plenamente a si mesmo, assemelhando-se à atitude dos animais diante do reflexo. O segundo momento é marcado pela consciência da relação entre quem olha e quem é visto, gerando descobertas e desorientações do eu. Finalmente, no terceiro momento, ocorre a simbolização, onde a imagem é reconhecida como representação do próprio eu.
Com base nesse contexto, podemos dizer que o narcisismo não é uma característica exclusiva de algumas pessoas; ao contrário, é um dispositivo de subjetivação presente em todos os sujeitos. Funciona como uma espécie de gramática básica para cada indivíduo, influenciando suas identificações e moldando a maneira como percebem a si mesmos e ao mundo ao seu redor.
Indivíduos com Transtorno Narcisista não são vilões em busca de vítimas, mas pessoas que sofrem em algum nível.
Embora a estrutura narcísica esteja na base da constituição do Eu, é importante destacar casos específicos onde a estrutura narcísica se manifesta de maneira exagerada, como sintoma, principalmente na vida adulta, revelando o chamado Transtorno de Personalidade Narcisista.
O Transtorno de Personalidade Narcisista é uma condição psicológica marcada por um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Os sintomas incluem uma visão inflada de si mesmo, busca constante por validação externa, falta de consideração pelos outros e relacionamentos interpessoais problemáticos.
É fundamental compreender que a pessoa que sofre desse transtorno não é uma vilã, mas alguém que enfrenta desafios significativos.
A abordagem psicanalítica sugere que o narcisismo é inerente à condição humana, uma estrutura básica na constituição da identidade. Reconhecer isso não implica que todos sofremos de um Transtorno de Personalidade Narcisista.
É saudável ter uma "dose" de narcisismo, pois está ligado à formação do eu e ao desenvolvimento da autoestima. A concepção popular de narcisismo muitas vezes associa o transtorno narcisista a pessoas perigosas e mal-intencionadas. No entanto, é crucial desmistificar essa ideia.
Indivíduos com Transtorno Narcisista não são vilões em busca de vítimas, mas pessoas que sofrem em algum nível.
Freud nos instiga a questionar nossa responsabilidade nas situações em que nos queixamos. Aqueles que apontam o dedo acusador do narcisismo alheio podem estar transferindo seu desconforto pessoal. Em vez de focar nas supostas estratégias "maléficas" dos narcisistas, é mais construtivo buscar autocuidado, estabelecer limites e trabalhar suas próprias questões, ou seja, se implicar.
O narcisismo, quando compreendido em um sentido mais amplo, como estrutura, revela-se uma parte intrínseca da experiência humana. Quando compreendido como transtorno ou psicopatologia, diz muito da realidade de quem sofre com o transtorno. O objetivo do diagnóstico não é a culpabilização, mas o melhor acolhimento de quem sofre.
Embora a estrutura narcísica esteja na base da constituição do Eu, é importante destacar casos específicos onde a estrutura narcísica se manifesta de maneira exagerada, como sintoma, principalmente na vida adulta, revelando o chamado Transtorno de Personalidade Narcisista.
O Transtorno de Personalidade Narcisista é uma condição psicológica marcada por um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Os sintomas incluem uma visão inflada de si mesmo, busca constante por validação externa, falta de consideração pelos outros e relacionamentos interpessoais problemáticos.
É fundamental compreender que a pessoa que sofre desse transtorno não é uma vilã, mas alguém que enfrenta desafios significativos.